domingo, 8 de janeiro de 2012

Reflexão de Frei Wilson Gomes do Nascimento - OCD

Queridos irmãos e irmãs,

ois nos amores perfeito
Esta lei se requeria,
Que se torne semelhante
O amante a quem queria
Ficou o Verbo encarnado
Nas entranhas de Maria
E o que então só tinha Pai,
Já Mãe também teria

Deus, porém, no presépio
Ali chorava e gemia
E a Mãe se assombrava
Da troca que ali se via
O pranto do homem em Deus,
E no homem a alegria (são João da Cruz)

A poesia do santo Padre não deixa dúvida: o Amor de Deus por nós fez com que Ele assumisse nossa Natureza. O Filho Divino tornou-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado. O Verbo Encarnado assumiu o dinamismo do crescimento humano para chegar à maturidade: “Ele crescia em idade, graça e sabedoria”.
O movimento de Deus em nossa direção, para nos encontrar, deve fazer com que caminhemos também em sua direção, para encontrá-Lo. Podemos e devemos crescer em direção Àquele que é nossa Cabeça, Princípio e Fim. Deixar de lado os infantilismos, as birras, as fraldas e os bicos próprios de uma etapa de nossa vida para caminhar como adultos na Fé. Talvez seja por isso que o Papa declarou 2012 o Ano da Fé.
“Quando era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança” (1 Cor 13, 11)
Nos Evangelhos vemos uma multidão que segue a Jesus. Buscam a cura de suas enfermidades físicas e espirituais, às vezes querem apenas comida, por isso pensam fazê-lo rei. Se hoje o sistema público de saúde é tão precário, podemos imaginar como era a dois mil anos atrás. Esta mesma multidão que aclama Jesus como “filho de Davi” vai ser também a multidão que grita “crucifica-o”. A multidão não tem nome nem rosto, é anônima, falta-lhe identidade, ela é massa.
Para se tornar discípulo de Jesus é preciso amá-Lo mais que a si mesmo, mais que aos parentes e amigos, negar-se e assumir a sua cruz para segui-Lo a cada dia. A Trindade nos convida a sair do egocentrismo próprio da infância, sair de si mesmo para ir ao encontro do Outro e dos outros. É necessário amadurecer, ir amadurecendo, para tornar-se um discípulo como Jesus o apresenta. Infelizmente muitos cristãos adultos (leigos, religiosos, clérigos) ainda não chegaram a maturidade da fé.
“Assim não seremos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e da sua astúcia que nos induz ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo... até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, o estado do Homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4, 14-15.13)
Foi muito bonito de ver a multidão de jovens na JMJ em Madrid. No entanto, o que os meios de comunicação não deixaram de mostrar foi que muitos destes jovens precisam amadurecer. Como assim? Precisam crescer na fé, esperança e caridade. Viver no dia a dia, não apenas em grandes eventos, o seguimento de Jesus, do Evangelho e sua adesão a Igreja visível. A JMJ pode se tornar apenas mais um passeio turístico para conhecer lugares e pessoas novas. A dimensão turística também é boa, mas não deveria ser a principal ou a única. O testemunho não fica claro quando nos mostramos apenas como “sacoleiros” e consumidores compulsivos.
Vemos a beleza da realidade e nos alegramos com ela, agradecemos a Deus por tanta coisa boa, pedimos por sua conservação e crescimento. Mas se não enxergarmos o lado escuro desta mesma realidade como vamos interceder junto a Deus para que a ilumine e transforme?
“Irmãos, quanto ao modo de julgardes, não sejais como crianças; quanto à malícia, sim, sede crianças, mas, quanto ao modo de julgar, sede adultos.” (1 Cor 14, 20)
Santa Teresinha nos fala da graça de natal que recebeu em 25 de dezembro1886. Neste dia diz, “recebi a graça de sair da infância... nessa noite em que Ele se fez fraco e sofredor por meu amor, fez-me forte e corajosa, vestiu-me com suas armas e desde essa noite bendita, não fui vencida em nenhum combate... Teresa não era mais a mesma, Jesus mudara o seu coração... Fez de mim pescador de almas, senti um grande desejo de trabalhar para a conversão dos pecadores... Senti numa palavra a caridade entrar no meu coração, a necessidade de me esquecer para dar prazer e desde então fui feliz!”
“Nós, os fortes, devemos carregar as fragilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem, para edificar. Pois também Cristo não buscou sua própria satisfação...” (Rom 15 1-2)
Aquele que é Deus, o VERBO ENCARNADO, vem pedir-nos esmola.
O Bebê estende as mãozinhas e se disfarça de pobre para nos alcançar.
Feliz Natal e um Ano Novo pleno de Deus é o que desejo a todos os meus amigos (as) e irmãos (ãs)!
Frei Wilson Gomes do Nascimento



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